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07 de abril de 2018

  • sevenweeks3
  • 11 de jun. de 2018
  • 3 min de leitura

Acordei cedo e cuidei dos meus afazeres em casa. Estar perto do meu primogênito e me ocupar em dar atenção pra ele funciona como um tipo de analgésico. Não tira completamente a dor, mas ameniza bastante. Em alguns momentos com ele me pego de novo sorrindo, me permitindo pensar em coisas triviais entre os flashes da minha memória, que me lembram da tristeza e da saudade que ocupam uma parte tão grande do meu coração.


Decidimos visitar os meus pais, já que não o fazíamos há pelo menos quinze dias.


Foi bom receber o beijo do meu pai, mesmo sem que ele proferisse qualquer palavra sobre o aborto. Foi bom abraçar de novo a minha mãe, receber o melhor colo e afago do mundo. Às vezes me deitar no ombro dela é como voltar para o ventre, dá uma sensação boa de segurança, como se nada de ruim pudesse mais me acontecer. Como não existe perfeição, ela também repetiu as palavras clássicas, que se for da vontade de Deus eu vou ter minha menina. Não retruco, não discordo, não respondo o que realmente penso. Apenas respiro fundo e aceno afirmativamente com a cabeça. E me sinto agradecida mesmo assim. Porque na minha dor de mãe que perdeu os filhos, eu tenho o privilégio de desfrutar do carinho da minha família. Serve o beijo calado do meu pai ou o consolo desajeitado das palavras da minha mãe. Família é alento, mesmo não sendo perfeita como nos comerciais de margarina.


Enquanto observava no terraço as brincadeiras do Gael com a minha sobrinha, pedi despretensiosamente para o meu marido consultar o site do laboratório pelo celular. Li aflita na tela a palavra “disponível”. Desci as escadas quase sem respirar e comecei a ler o texto - “RESULTADO: O feto era do sexo feminino e não foi evidenciado ganho ou perda envolvendo as regiões subteloméricas dos cromossomos. Portanto apresentava cariótipo feminino normal, ou seja, sem aneuploidias.”


Simples e fácil de entender. Eu estava certa quanto ao sexo. Era mesmo a nossa menininha, a quem eu queria chamar de Betina apesar da discordância do pai. E não havia absolutamente nada de errado com ela. A suspeita do meu obstetra, a fala decorada da plantonista que finalizou o meu atendimento e me entregou o potinho com a minha filha, a história de que a natureza é sábia e o aborto aconteceu porque minha bebê não era viável, tudo desmentido por esse resultado. A minha filha era perfeita e estava bem. Parou de se desenvolver porque o meu corpo falhou em suprir as necessidades dela pra crescer.


Foi impossível manter a calma e segurar o choro. Desmoronei na frente da minha família e das crianças. Me senti culpada, incompetente, doente. Não sei dizer se doeu mais saber que foi o meu corpo que falhou ou se foi o fato de permanecer sem uma explicação para o que aconteceu. Descobrimos a trombofilia antes da gestação do Gael e sempre acreditamos que, com o uso da medicação, tudo correria bem assim como foi na gravidez dele. Quando perdemos nossos gêmeos e não foi possível realizar nenhum exame, a hipótese diagnóstica era de problemas cromossômicos. Mas e agora com este resultado? O que está causando a morte dos meus filhos?


Para o Fábio, acho que foi dolorida a confirmação de que era menina. Ele sempre sonhou com nossa princesinha. Apesar da certeza na minha afirmação desde o início, no fundo ele ainda tinha dúvidas. Deu pra perceber os olhos dele mais brilhantes por causa das lágrimas, mas ele não as deixou correr. Telefonou para a minha sogra e contou pra ela. De longe eu pude ouvir que ela também chorou.

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