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04 de maio de 2018

  • sevenweeks3
  • 11 de jun. de 2018
  • 3 min de leitura

Como eu gostaria de ser uma pessoa diferente, de não ser assim tão transparente, de não permitir que todo mundo veja tão claramente o que estou sentindo. Às vezes esse meu jeito de ser acaba permitindo algumas invasões indesejadas na minha vida que certamente não aconteceriam se eu fosse uma pessoa mais reservada.


Depois da consulta de ontem fiquei muito perturbada. Eu tinha esperanças de receber uma definição do meu médico. No fundo sabia que não aconteceria, mas tinha a ilusão de que ele diria “foi isso, agora faça assim”. Tudo que eu queria era não ter que analisar possibilidades e tomar decisões.


Minha cabeça ficou borbulhando e não consegui esconder isso das pessoas que me rodeiam. Acabei contando sobre a conversa com o obstetra pra colegas de trabalho e família e, consequentemente, ouvindo muita coisa que preferia não ouvir. Algumas coisas que até podem ter um fundo de verdade, mas que por enquanto não consigo aceitar. Outras coisas absurdas, que davam vontade de socar a cara de quem falava. Teve gente dizendo que no meu lugar desistiria de uma vez, conselhos para “ser mais pé no chão e me empolgar menos da próxima vez”, “me preparar para o terceiro aborto”, como se isso fosse possível. Ninguém nunca está preparado para a perda. Todos nós estamos sujeitos à morte, a nossa própria ou de nossos entes queridos, mas ninguém está preparado. Mesmo aqueles que convivem com doenças graves e sofrimento, que têm familiares com idade muito avançada, simplesmente não existe “estar preparado” para perder quem amamos. Não tem terapia, religião ou mágica que possibilite isso. Enfim... Foi um dia muito difícil.


Como sempre, me obrigo a respirar fundo e relevar. Porque as falas mais difíceis de digerir sempre vêm de pessoas que não fazem ideia de como um bebê (embrião, blastocisto, amontoado de células ou qualquer outra designação à escolha) que não puder ver, mal pude sentir se tornou tão importante na minha vida. E também porque tudo o que ouço é motivado pelo que digo. Se eu conseguisse manter a minha boca fechada as pessoas não iam começar a discursar sobre a minha vida do nada. Minha culpa, minha máxima culpa. Mais uma pra minha lista...


Salto do modo “compreensiva” para o “revoltada” em questão de segundos. Ninguém é ninguém para diminuir a importância dos meus filhos ou questionar meu amor por eles. Ninguém é ninguém para planejar minha vida e decidir se devo ou não tentar ter outros bebês e muito menos palpitar sobre a forma como me empolgo nas minhas gestações. Ninguém deveria fazer comentários sobre assuntos tão delicados se não sabem como fazer. Ninguém está na minha pele. E daqui pra frente vou tentar me resguardar um pouco mais. Guardarei meus desabafos aqui, sem abrir um “painel de discussão” sobre meus problemas, suas causas e soluções.


Dormi muito pouco a noite passada, acordei várias vezes e passei horas pensando no que fazer da vida e em como qualquer decisão que eu tome vai afetar não só a mim, mas ao Gael, ao Fábio e possivelmente a um quarto envolvido se este vier a existir. Mesmo tendo que dividir essa decisão com o Fábio, me sinto muito sozinha, porque no fundo sei que ele vai acabar aceitando o que eu definir. Ele tem sim o forte desejo de ter mais filhos, mas não é tão ansioso e obstinado quanto eu.


A minha ansiedade já está no limite do insuportável. Penso nisso o tempo todo. E quando consigo me distrair com outra coisa, eis que surgem grávidas, recém-nascidos e comentários sobre o bom desenvolvimento do meu sobrinho para cutucar a ferida. Parece que as grávidas e bebezinhos se multiplicam ao meu redor. Aparecem no restaurante, na fila do supermercado, nas propagandas da TV e da internet, em todo lugar que eu olhe. Parece que as barrigas são maiores do que costumavam ser antes.


Não está fácil não...

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